quarta-feira, janeiro 11, 2012

Num zum zum suicida

O voo espatifa-se

Contra a transparência

Muitas mortes

Quantas vezes há morte
em uma semana
um dia
?

A morte presencia-se
No beijo não dado
Na palavra negada
No amor acumulado, represado, sonegado

Na ideia natimorta
No afago recusado com mão torta
No sorriso atrás da porta

No elogio fácil ou falso

A morte é
pingo de sangue
na roupa nova

Poesia orgânica

À Marcos Prado


Ele caga e dança para a poesia

Ato orgânico, indispensável a cada dia



Impensável viver

Uma vida oclusa

Obtusa, inconclusa


A palavra que não dança, nem caga

Está morta, acabada, inanimada

Tudo morre dentro

Nada aduba

Novo piercing

Do peito pende uma argola

Que o espelho admira

Toca

E pensa em Luiz

Se um dia também vai tocá-la

Não agora, que ainda dói

Vilnerável

Coração vilnerável

Olhos oblíquos e dissimulados

Capitu agressiva e selvagem

Gata que arranha o sofá

O mal consciente inexiste nela

No outro não se reconhece

Nada além do prazer

Quando o mundo se apresenta

Um dos dois é esmagado

Memória

Isso que tanto me marcou
Aconteceu ontem
ou
Ainda vai acontecer


A memória que não tenho me extravasa
A que tenho não se encontra

Flecha sem alvo pairando no ar

quarta-feira, outubro 05, 2011

segunda-feira, julho 25, 2011

Nevermore

Cérebro em expansão
Pressão na caixa craniana
Dor

Estômago embrulhado
revirado em álcool
vômito

O mundo se move rápido demais

O corvo da ressaca grita no ouvido:
"Nevermore, nevermore"

quinta-feira, julho 07, 2011

O morto

A morte impõe-nos a ausência

O mundo e o peito esvaziam-se

O nada deixa tudo enorme

Diminuímos

Um dia compreendemos

O morto não partiu

Carregamos o morto dentro

Há que se viver por dois

Honrando-lhe mente e alma

Somos uno em um duplo sutil

Sós, temos um outro que nos socorra

Vida e morte preenchem-nos

Somos três, somos dez, somos mil

Fortes como amor e amizade

Que a terra não cobriu nem o fogo consumiu

quinta-feira, janeiro 20, 2011

A menina dança

A menina dança

Redemoinho sensual
Gira roda garota
Som de maracatu
Garibaldis e Sacis
Ou Móveis Coloniais de Acaju

Apenas uma garota que dança

Sem dores e ais
Desamores e quetais
Felicidade que se espalha
Em suores de Ramones

A solidão é uma certeza

Para mãos e olhares pidonhos
Desvios de leveza
Para rodopios risonhos
O som da Gentileza

domingo, dezembro 12, 2010

Zumbi de bigodes

Leminski está morto
A pau a pedra a fogo a pique

Vermes Occams comeram-lhe a carne
Mas vem do cachorro louco um repique

Não há terra que lhe acalme
Mesmo decomposto ele brame
Expirado, ele inspira
Não há quem não o ame
Não há quem não o infame

Nem isso nem menos nem tanto nem quase

O zumbi de bigodes retorna à profunda superfície, sua base

Maltrata-nos em ais e cais

Metamorfoseia-nos

Até compreendermos
Que os mortos somos nós

Mandados por ele
Leminskianos insetos parentes do alfabeto
Nos picam
E outras proesias implicam

Levanta-te, Lazaroento poeta!

Tua defunta presença nos marreta

Dai-nos a cova
Precisamos desse espaço
Ou você não se toca
Que tua presente morte nos sufoca