terça-feira, fevereiro 27, 2007

Nilo Peçanha

No ponto

Punks passavam pingando pose

- ...Foi lindo, lindo

- Cara, você já deu um murro em alguém com soco inglês? Isso sim que é lindo!!! O metal batendo na carne, o barulho, cara, isso sim que é lindo, cara, lindo ...

No ônibus

A velha vagia vantagem vigorosamente

- Essas meninas de hoje não sabem se divertir. Vão no baile e ficam no canto. Eu não. Eu danço o tempo todo ... e nunca sozinha. Danço tudo, bolero, dois por dois, inté tango ...

Sobrepõe-se o som selvagem do celular

Depois do alô, a fanha voz metálica invade o mundo:

- JOÃO,CARA, TÁ FUDENDO TUDO! TEM QUE PAGARR TUDO, SE NÃO NÃO ENTREGAM, CARA, E SE NÃO ENTREGÁ HOJE FUDEU O FIM DE SEMANA E VAMO PERRDÊ TODA A GRANA ...

- Ô Tadeu, péra aí, eu já ligo pra você. É que essa merda de celular só tá funcionando no viva voz e eu tô no ônibus. Já te ligo, falô?! Tchau.

O silêncio denso sua seco sete segundos e a velha:

- Essas meninas de hoje ficam sempre num canto com cara de nem me chegue nem me toque e eu já tô lá, dançando, num paro um minuto ...

Resta o riso

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Automovimento

A estrada é uma reta só
o ponto negro

quase no infinito

demora segundos

e se transforma em um carro

zumbindo do nosso lado



Alguém, uma vez, me disse que se você tentar pular de um carro para o outro no exato momento em que eles se cruzam em alta velocidade você pode fazer uma espécie de viagem no tempo. Que viagem

Aperto os lábios na seda

Sugo a fumaça
Me pergunto se ele vai querer me beijar


Passo o cigarro


Penso no que farei se tentar me beijar
Não é feio nem bonito
É um cara qualquer em uma estrada qualquer
Não sei por que aceitei a carona

Ou sei

Não tinha para onde ir
Não tinha a quem beijar