ela veste vermelho
suja as veias e sorri
faz isso por mim
me olha dança me olha
provoca
eu
indiferente
penso se é amor ou ódio
apenas me quer
ela veste vermelho
suja as veias e sorri
faz isso por mim
me olha dança me olha
provoca
eu
indiferente
penso se é amor ou ódio
apenas me quer
ávido de vida
vejo vozes voarem
sonho sons sozinho
conto cores que caem
rindo ritmos no radinho
Qual coelho de Alice
olho horas de ontem
Esquisitice
apaixonante sandice
avançar ao passado
com o futuro ao alcance (esvair-se)
A busca da perdição
não me traz a angústia
O alívio da salvação
do paraíso me expulsa
Uma frente fria formou uma neblina gelada em minha alma chocando-se com a frente quente da paixão que ali residia e eu chovi
Lágrimas de granizo
Estou chovendo
entre nuvens e algumas pancadas de sol.
Torço pela ação do tempo,
que ele venha e me decomponha logo.
Que o vento me deforme e as marés me engulam.
Mergulhar num tempo que pare a chuva e traga o sol,
ou que a água me derreta.
Que seja lava de vulcão ou escorra pelo ralo.
Que venha o tempo, me devorar e me amar.
Abro livros de poesia
Como se fossem bíblia, alcorão, I ching
Procurando extratos de auto-ajuda
E descartam incompreensão
Seu rosto lindo que não mais beijarei
Olha-me mico mocado no monte
Não consigo desfazer-me de você
Cachorro tocado que volta ao antigo dono
Sem consciência de já viver o abandono
Nesga de amor que nos negamos
A quem pensa que enganamos?
Veja esta camisa. Limpa
Agora, veja minha alma.
Não aquela de religião, que sobe ao céu ou queima no inferno.
A alma. O âmago. O coração. O substrato. Substância
Aquilo que nos faz ser
Veja!
Esta é a alma!
Nem vício
Nem esta camisa branca
O sangue começando a manchá-la!
Talvez a própria mancha
Seja eu
Risos atrás de vidros
Copos garrafas
Pernas roçando pernas
Olhares esgrimam
Punho fechado rasgando o ar
Gritos
É preciso vencer o medo
Passeio discreto
Retorno
Portão de casa
Arma na mão
Olho vidrado
Assalto
É preciso vencer o medo
Peçonhento
Bicho-cabeludo na língua
nos engole
Como fugir do que vem de dentro?
Matar o oco da carne
Calar o ranger de ossos da caveira
Lamber o já deglutido
O som vesgo do coração
Pipoca no gelado sangue que ferve
Escuridão subterrânea e líquida
Gosma que envolve e regurgita
O calcanhar atravessado na garganta
mastiga a falta de ar dos pulmões
Metástase dos sentidos
O corpo todo embolado
Cãibra facial
Espiral de contorções na epiderme
Existência liquidificada liquidada
Num único sentimento:
Medo
Hoje de manhã escutei um fado
Me achei meio decadente, sabe
Escutar fado assim de manhã
É como beber cerveja antes do café
Me senti devasso e devassado
A emoção incontrolável
Sentir o coração crescer, inchar
E a vontade louca de chorar
2
Síndrome
A cada dia mais freqüente
Interminável
Emoção em luta e em luto
Mastigo-a
Antígona
Penélope
Lisístrata
Entre a ausência
A espera
E a abstinência
3
Vê-la
Só em sonhos
Nossas fábulas íntimas
Impossíveis
Onde apareço
Lobo Mau
Deslocado
Imaginando que em breve
Te encontro
Branca de Neve
A treta estava no ar
Podia respirá-la
Escada abaixo
EntreiCheiro de confusão
Mais forte que cigarro
Misturava as notas da banda
Atordoava os olhares das meninas
Não foram nem cinco passos
E a cadeira voou
Direto na cabeça
Acima da orelha
Nem vi quem foi
Doeu pra caralho
Tava no chão
E o povo brigando por cima de mim
Me arrastei prum canto
O sangue escorregando pela orelha
Fiquei ali, espremido, sentado, com as pernas encolhidas
De repente
Do nada
A mão na minha cabeça
Susto
Tirei rápido
Olhei e era a Ritinha:
“Cara, eu vi tudo, você passou bem no meio. Tá doendo?”
E pousou o carinho no meu corte
Nem vi mais briga