quinta-feira, dezembro 14, 2006

Apenas

ela veste vermelho
suja as veias e sorri
faz isso por mim


canta mais que a banda
me olha dança me olha
provoca


eu
indiferente
penso se é amor ou ódio
ela também não sabe


apenas me quer

terça-feira, dezembro 12, 2006

Esvair-se

ávido de vida

vejo vozes voarem

sonho sons sozinho

conto cores que caem

rindo ritmos no radinho


Qual coelho de Alice

olho horas de ontem

Esquisitice

apaixonante sandice

avançar ao passado

com o futuro ao alcance (esvair-se)


A busca da perdição

não me traz a angústia

O alívio da salvação

do paraíso me expulsa

Previsivo

Uma frente fria formou uma neblina gelada em minha alma chocando-se com a frente quente da paixão que ali residia e eu chovi

Lágrimas de granizo

Estou chovendo

entre nuvens e algumas pancadas de sol.

Torço pela ação do tempo,

que ele venha e me decomponha logo.

Que o vento me deforme e as marés me engulam.


Mergulhar num tempo que pare a chuva e traga o sol,

ou que a água me derreta.

Que seja lava de vulcão ou escorra pelo ralo.

Que venha o tempo, me devorar e me amar.

sábado, dezembro 09, 2006

Descontrole

Abro livros de poesia
Como se fossem bíblia, alcorão, I ching
Procurando extratos de auto-ajuda

Se não explicação, um mínimo de conforto

Mas as palavras embaralham-se
E descartam incompreensão
Seu rosto lindo que não mais beijarei
Olha-me mico mocado no monte

Não consigo desfazer-me de você
Cachorro tocado que volta ao antigo dono
Sem consciência de já viver o abandono
Nesga de amor que nos negamos
A quem pensa que enganamos?

Alma picada


Veja este vício. Nos consome

Veja esta camisa. Limpa

Agora, veja minha alma.

Não aquela de religião, que sobe ao céu ou queima no inferno.

A alma. O âmago. O coração. O substrato. Substância

Aquilo que nos faz ser


Veja!

Esta é a alma!

Nem vício

Nem esta camisa branca

O sangue começando a manchá-la!

Talvez a própria mancha

Seja eu

Tenso

Risos atrás de vidros

Copos garrafas

Pernas roçando pernas

Olhares esgrimam

Punho fechado rasgando o ar

Gritos

É preciso vencer o medo


Passeio discreto

Retorno

Portão de casa

Arma na mão

Olho vidrado

Assalto

É preciso vencer o medo

quinta-feira, novembro 30, 2006

O oco da carne


Peçonhento

Bicho-cabeludo na língua

nos engole

Como fugir do que vem de dentro?

Matar o oco da carne

Calar o ranger de ossos da caveira

Lamber o já deglutido

O som vesgo do coração

Pipoca no gelado sangue que ferve

Escuridão subterrânea e líquida

Gosma que envolve e regurgita

O calcanhar atravessado na garganta

mastiga a falta de ar dos pulmões

Metástase dos sentidos

O corpo todo embolado

Cãibra facial

Espiral de contorções na epiderme

Existência liquidificada liquidada

Num único sentimento:

Medo

quinta-feira, novembro 16, 2006

Domador de pedreiras




A madrugada. A cerca
Nada de cima
Nada de baixo
O pulo bêbado, mas ágil
O baque surdo da aterrissagem
A corda puxa a mochila

- Estou dentro



Pedreira Paulo Leminski. 5 horas da madrugada

- Estou dentro

Latido de cachorro

Ainda está escuro e a árvore dá proteção
Invisível
Por enquanto
Se clarear ...

Quieto quieto quieto

Longos minutos. A perna começa a formigar.
De pé. O olhar acostuma ou o dia clareia?
É preciso voltar a ficar invisível.
Outro lugar
Com calma
Roupa preta. Sempre.
Com calma, pé ante pé, junto ao tapume da cerca
Tem carro. Tem voz. Mas é lá embaixo
No portão de cima é mais perigoso
Se esperar, clareia
Arriscar já.
Passar lento e quieto
Subir as pedras por cima do lago
E sumir
Até a noite voltar
Até começar o show
Escalar
Quieto quieto pedra a pedra pedra a pedra
Um bom arbusto é o que preciso
Estacionar. Dá até para se esticar. Deitar
Mochila sob a cabeça
Merda de chuvinha que começa
Não vai engrossar
Dá até pra dormir se não engrossar



Pedreira Paulo Leminski. Meio-dia.

Som som som sssom
Teste teste testando testando sssom ssssom

Ouvido aberto Olho aberto
Não é sonho

- Estou dentro
- Pagar 50 paus nem fodendo
- A Pedreira é uma peneira

Todo molhado
Chuvinha de merda
Calma ao se mexer
Sem escorregar
Primeiro olhar conferir
O arbusto parece seguro
Proteção
Mas o caminho difícil. Olha
Olha olha
Sem mapa de chegada sem trilha
Local onde ninguém chega
Sair vai ser outro problema
Mas agora é esperar relaxar
Sentar
Mochila aberta
Pão com mortadela
Cantil com vinho barato

- Quando começar o show eu desço

Solidão
Frio no coração
Carminha não queria
Não vá não vá
Vem vem

Frio na bunda

- Tô aqui, que se foda!

Movimento aumenta depois das duas
O portão abre às três e o povo corre
Mais coisa pra ver
Mais segurança
Barulho mais pro alto
Tem gente aí pra cima do morro de pedras
Mais penetras
Mas fazem muito barulho
Tão gritando, cantando, uivando
Vão se ferrar
Segurança não demora
Em cima
Bate-boca
Tapa cacete porrada
No meio
Quieto quieto quieto encolhe some

Confusão vai passando
seguranças ficam de guarda
Merda
Agora como sair
Esperar o show começar
Esperar esperar esperar



Pedreira Paulo Leminki. 21 horas

Dores incômodo fome ressaca de vinho ruim roupa molhada corpo molhado alma molhada frio cabeça que dói e os seguranças acima

- Fôda-se, falta pouco

Troveja alto raios ao fundo ao mesmo tempo no palco explosão de luzes e fumaça
Tudo efeito especial?
O povo grita histérico
Som Som SOM SOM
O arbusto pula
Canhão de luz passeia pelo público incandescente avança pelas pedras sobe e se fixa num rapaz de pé, equilíbrio precário agarrado a um arbusto que serve de rédeas domador de pedreira peito nu a camisa girando no alto da cabeça o sorriso de três luas toma conta de todo o rosto

- AHÊÊÊ. DO CARAAAAALHOOOO!

sábado, setembro 16, 2006

Tchau Amor de Classe Média

Nunca mais
Almoços familiares de domingo
Cheios de pratos de macarrão, pedaços de carne e porções de felicidade

Nunca mais
O beijo na boca
Como se nunca tivessem inventado o relógio

Nunca mais
Cinema e teatro de mãos dadas
E shows de língua lambendo língua em melodias ardentes

Nunca mais
A cabeça pousada no ombro tirando um cochilo enquanto espera a eternidade

Nunca mais
Namoros que se expandem em carros e se espremem em parques e bosques

Nunca mais Paixões alagadas em cabanas de pousadas ouvindo pássaros e águas

domingo, setembro 03, 2006

Três maneiras de dizer a mesma coisa

1


Hoje de manhã escutei um fado

Me achei meio decadente, sabe

Escutar fado assim de manhã

É como beber cerveja antes do café

Me senti devasso e devassado

A emoção incontrolável

Sentir o coração crescer, inchar

E a vontade louca de chorar


2


Síndrome

A cada dia mais freqüente

Interminável

Emoção em luta e em luto

Mastigo-a

Antígona

Penélope

Lisístrata

Entre a ausência

A espera

E a abstinência


3


Vê-la

Só em sonhos

Nossas fábulas íntimas

Impossíveis

Onde apareço

Lobo Mau

Deslocado

Imaginando que em breve

Te encontro

Branca de Neve


segunda-feira, agosto 21, 2006

Treta



A treta estava no ar

Podia respirá-la

Escada abaixo

Entrei

Cheiro de confusão

Mais forte que cigarro

Misturava as notas da banda

Atordoava os olhares das meninas

Não foram nem cinco passos

E a cadeira voou

Direto na cabeça

Acima da orelha

Nem vi quem foi

Doeu pra caralho

Tava no chão

E o povo brigando por cima de mim

Me arrastei prum canto

O sangue escorregando pela orelha

Fiquei ali, espremido, sentado, com as pernas encolhidas

De repente

Do nada

A mão na minha cabeça

Susto

Tirei rápido

Olhei e era a Ritinha:


“Cara, eu vi tudo, você passou bem no meio. Tá doendo?”

E pousou o carinho no meu corte

Nem vi mais briga

segunda-feira, agosto 14, 2006

Olhando Poty


Orvalho limo álcool
As porras das pedras do Largo estavam escorregadias
Equilíbrio

A madrugada é mais fria para o solitário

Sentar em um ponto de ônibus qualquer e esperar
O dia vai amanhecer em duas horas
Trazer um ônibus para me levar
O orvalho virou garoa fina
Molhando a luz do holofote
Que acende o mural do Poty
Os homens de mãos e pés grandes
A raia colorida
Um tatu ao lado do tubo do ligeirinho
Casinhas de madeira
Pinheiros pinhões
É bonito?
É Curitiba?

MAS CADÊ A MINHA CURITIBA, PORRA!?!?!?

sábado, agosto 05, 2006

Fazer o quê?

Tive que matá!

Lembro do primeiro dia que vi ela
Tava cumas mina da vila
Passeando
Me cumprimentaram e saíram de risinho
Fui atrás
Queria ela naquela mesma hora
Me cheguei junto, mas ela tava de dôce
Nem cerveja não quis bebê
Ia embora, ofereci carona, não aceitô
Ainda bem, tava a pé
Fiquei com a Ritinha, mas queria era ela
Um domingo, fui atrás, na outra vila
Me arrisquei com a bandidagem de lá
Encontrei ela na pracinha
Tava meio zoada
Tava alta
Tinha fumado um bagulho
Ofereci mais
Ela aceitô
Mas eu falei que ali não
Ali era sujeira pra mim
Malandro de outra praça
Não pode oferecê bagulho na praça alheia
Morre
Levei comigo
Ela fumô umas três pedra
Daí transamo
Ela era virgem
Mesmo zoada ela era um doce
E muito gostosa
A mina mais linda que já tive
Daí ela vinha sempre pra me vê e pra fumá
Ficamo uns seis meis junto
Daí os mano da boca começou a me cobrá
Que ela tinha que pagá as pedra que fumava
Eu disse pra descontá do meu
Mas também tava devendo
Presente, motel, agradinho, sabe como é!?
Grana voa
Levei uma enquadrada dos mano
Era o último aviso
Disse que ia cobrá
Prometi pra eles
Cobrei dela
Ela disse
“Tu que me deu, tu que pague”
Tava meio braba
Meio magoada
Olhou de cantinho
Com um risinho, uma carinha, perguntou:
“Tu não é meu homem?”
Aquilo me desconsertô
Quase chorei
Emoção ser o homem dela
Nunca tinha sido de ninguém
Fiquei meio bobo
Ela me queria
Será que aquilo era amor?
Aquela aflição?
Pensei em largar tudo e ficar com ela
Foi aí que ela disse com cara de ódio:
“Olha aqui ó, cumé queu tô ti pagando”
E abriu bem as perna mostrando a xota na minha direção
Fazer o que?

Tinha que matá, doutô!

terça-feira, agosto 01, 2006

Nem que




Quantos dias taí o corpo?
Eu não sabia responder pro meganha
Só tinha visto hoje
quando passei de magrela
Avisei na padaria
e chamaram os home do orelhão
Foram me buscar na escola
Todo mundo olhando
Até eu achei que ia em cana
sem saber porque
No carro me falaram que era pra reconhecer o corpo
Eu já tinha visto mas não conhecia
Tava sempre com o Zé da Zica
Mas não ia falar nada
pra não me complicar
O Zé mata
todo mundo sabe
anda berrado
mas nem que não andasse
que não matasse
vizinho meu
Não digo nada

quarta-feira, julho 26, 2006

Intensa feito criança

Ela é intensa feito uma criança

O pensamento voou na cabeça

As crianças tomam nosso tempo
Necessitam nosso tempo
Tomam tudo da gente
Tomam a gente se a gente deixa

Mas ela era intensa de outro modo
Embora parecida com uma criança


Magnética

Pensou e lembrou do Jorge Ben (jor)

E ela bem que poderia estar no meio da torcida do Flamengo

Já a imaginava pulando e gritando e agitando bandeira

Diversão. Era do que ele precisava e buscava
Não imaginou ainda estar melancólico
Mas ela se agitava, falava
enquanto ele pensava, olhava


Intensa e magnética

Divertida? Sim, também era divertida, mas falava demais

Não poderia dizer que ela era bonita,
mas gostaria de repetir o sexo com ela
Não agora, outro dia

Olhava as costas desaparecendo sob o algodão rosa
Ela virou rápido e falou:


E aí, velhinho. Paga logo que eu preciso cair fora!

quinta-feira, julho 20, 2006

Se fosse

Sem chances, velhinho
Essa parada aí é minha

Ainda bem que foi ele
E não eu
O cara tinha uma faca
E o Betão tá até hoje no hospital
Fui lá visitar
Tava cheio de tubo
Me apresentou a irmã
Bete
Beto e Bete
Assim mesmo
Não é nem Roberto nem Elizabete
Só Beto e Bete
São gêmeos
Mas ela é bonita
Nem se compara
Se fosse igual
Não ia beijar

terça-feira, julho 18, 2006

Péraí

Na aula, não entendeu nada
Porque não prestou atenção
Tentava se concentrar, mas
De repente
Quando percebia
Já estava voando de novo
Achou que tinha algum problema
Lembrou de uma palestra
A droga faz perder a concentração
Mas faz tempo que não toma nada
Nem sai direito
A última vez foi na festa do Kill
Junto com vinho barato
Mas nem tinha sentido nada
Não bateu
Foi no dia em que a Aninha
E a Fifi se pegaram na porrada
Por causa do Jeferson
Que saiu com a Andréa
Filho da puta
Como é que pode o cara
E ela, a Andréa, falava que tinha raiva dele
Que era canalha, oferecido
E eu ali escutando
Dando uma de amigo
Um dia até abracei ela
Que tava mal com a bebida
Vomitou um montão
E eu ali escutando
Ajudando
Ajudei ela a se limpar
Levei pra casa
Ainda dei beijo
Meio com nojo daquela boca vomitada
No dia seguinte ela nem falou nada
Nem agradeceu
Só disse pra gente ir pra festa do Kill
Sábado
Que ia ser legal
Fui pegar pra levar
Andei um montão
Chegamos lá
Olhou o Jéferson, olhou pra mim
Disse péraí que já volto …

sábado, julho 15, 2006

Roots




Ele descia a Visconde pra ir do
92 para o Lino
quando pisou na merda
vai ficar fedendo pra caralho
porque entrou nas fendas do coturno
não adianta esfregar na grama
se bem que melhora um pouco
procurou um pedaço de pau
e sentou no chão para limpar melhor a sola
foi então que ele se sentiu muito sozinho
e lembrou da cara de Rutinha
que ele chamava de Roots
caindo na sua frente e
o sangue jorrar da boca
menos de um segundo depois de
se arrebentar no chão
passou os dedos nos cabelos dela
que sorriu com dentes vermelhos
levantou como se não tivesse acontecido nada
puxou ele do chão
e começaram a dançar
mas aí o Jorjão chegou
e ela pulou no pescoço dele
acabou-se a dança
restou a merda

sexta-feira, julho 14, 2006

2 dias

Dois dias


Pink era uma garota linda
Original
Tinha tatuagem de tatu
Porque gostou do trocadilho
E pra agradar o namorado
O Tatoo
Que não era tatuador
Mas gostava de brincar com canivetes

Não havia banco de praça
De ônibus e mesa de boteco
Que não conhecesse o canivete de Tatoo
Mas o apelido pegou mesmo
Depois que ele fez aquilo com o chileno

Não foi por mal
Foi na hora da raiva. Depois
Passou e os dois até
Se cruzaram numa boa
Quase sem rancor

Pink não entendeu nada
Quando Tatoo largou dela
Pra ficar com aquela burguesinha
Artista plástica que desenhava frangos pelados
Chorou dois dias escondida
Depois, decidiu dar pro chileno