quarta-feira, janeiro 31, 2007

Gente é pra brilhar


Era noite
Chovia
Bar aberto
Eu dentro


A mulher das rosas também entrou
No colo
O filho era ranho
E braços
E pernas
E cabeça caída


- Compra uma rosa prela tio!!??


- Ela não merece – resposta de sempre


Um pedaço da criança
Escorreu pelos calcanhares
E caiu em meu copo


- Cadê o garçon??


Em cada rosa confinada em plástico
Vendida ia com ela
Um pedaço escorrido da criança


Pequeno botão de espinhos


Nas pétalas
a cor da vida que escorre


Na vida
a lembrança da cor




Brilha o aço

Terno preto amassado
Gravata preta pro lado
Cigarro no toco
Fumaça cinza na aba
Chapéu preto cansado
Barba crescendo


Abraça o couro preto
Roupa da guitarra branca
Couro preto pano vermelho amarrado
O coturno agarra cada degrau


A chave rodou uma vez
Estalou alto no fim do corredor

Dentro
Clac, sem luz
Clac, sem lâmpada


Coturno couro preto pano vermelho
Andar lento
Rangendo os dentes de madeira que o mordiam


Tuuuf
Filme colorido
Tuuuf


Despiu a guitarra
Carícia
Bbzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Um lá um sol um dó
Barulho infernal


Couro vermelho salto alto
Riscando cada degrau
Vestido justo lilás
Uma perna outra perna uma perna outra


Luva vermelha pulseira de tachas
Cabelo preto todo pro lado
Luz na direita
Amanhece


Couro vermelho salto alto
Furando o corredor

Barulho infernal


Olhos negros
A mão pára
Silêncio
Mão imóvel
Salto alto imóvel
Luz nas costas
Dele janela
Dela porta


Amanhece


Luva vermelha
Brilha o aço
Um grito


Amanhece




sexta-feira, janeiro 19, 2007

Blade Runner

Só mais um beijo, baby
Depois tocarei aquela canção

Só mais um beijo, baby
Musical
Lábios de sax

Tocando o músico

Um beijo, baby
Língua de Hiroshima
Fissando lábios
Explodindo

Um beijo, bela
Anarquista
Que todo poder desmorone de inveja
E o orgasmo os carregue

“one more kiss, dear”
e viverei para sempre
replicante apaixonado
e terno
nesse beijo

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Um homem chove

Vento

Chuva sobre o arame


Raios

Clarões

Instantes de visão


Um homem na chuva

Atrás do arame

Imóvel

Capacete

Capa enorme

Botas

Fuzil nas mãos

Um homem sem rosto

Imóvel

Constante como a chuva


Atrás do arame


O vento sopra a capa

Um raio ilumina um olho

Ele tem rosto

Barba de alguns dias

Os dias que chove

E que ele está ali

Imóvel

Constante

Fuzil nas mãos


Olhos fixos

No sangue

Que cai

E escorre com a chuva


Um rosto duro

Violento

Impassível

Espera

Seu sangue escorrer

Não pode segurá-lo

Com o fuzil

nas mãos



Ano Novo

Ontem
Sola de petit-pavé

Hoje
Bunda de sofá e olhos de tv


Ontem
Livros, cinema, toda a gana de saber


Hoje

Trabalho, preguiça, cara mais burro tô pra ver


Tesão aventura poesia rebeldia

Coisa do passado

Pra mim esse cara já virou viado