sábado, outubro 06, 2007

O som do inevitável

O míssel viaja sem aviso
De longe, parece carregar o silêncio
Próximo do alvo, o barulho é terrível
O som do inevitável
O ruído da tragédia

Pelo telhado anteriormente destruído
Ahmad viu a bomba
Só pensou em Sara
A judia com quem ele havia feito sexo apenas uma vez

Não pôde pensar em mais nada antes que seu cérebro se espalhasse pelas pedras

Se tivesse tempo, talvez pensasse em Basheera
Que brincava no que antes era o quarto ao lado
A única filha da esposa Aziza, que morrera em um atentado

Com certeza pensaria em Emma
Na grande barriga de Emma
Que envolvia Johann
Agora não passavam de disformidade
Compunham o caos de carne, banha e sangue que manchava as pedras

Na fração de tempo em que ouviu e viu a morte chegar
Ahmad só pensou em Sara
O primeiro amor

Orelha

Loira alta magra cabelos compridos
sobe no ônibus falando ao celular
ao mesmo tempo
pela outra porta
loira alta magra cabelos compridos
desce do ônibus falando ao celular

"Cena de cinema"
pensou, vendo do outro ponto, o
moreno alto magro barbudo que falava ao celular