sábado, maio 19, 2007

De pai para filho

Maricas!
O adjetivo viajou na memória pelas décadas em que ele não cresceu
Retornou com a companheira raiva
Encarcerada há milênios, agora explodia
Cega ao encontrar a luz
Fez o que fez e não sabe o que
A visão retorna, não a memória
O vermelho do sangue domina o ambiente
No chão, o filho. O único homem que ele realmente amou
Não foi o primeiro ou o único a enfrentá-lo
O primeiro e único a receber o troco
De quem ainda aprendia
Não poderia ensinar ao filho
Como conter as emoções e reações
Não poderia mais
Não mais
Nunca mais

segunda-feira, maio 07, 2007

Palavras


Ao mesmo tempo que ela
As frases surgiram do nada
Seriam saudação ao desejo?
Um bom dia aprofundado?
Mas ela pegou outro caminho
As palavras flutuaram sem serem ditas

Antes que o vento as soprasse
Costurou-as a tinta no papel
Para uma outra oportunidade
Decorou-as
Ensaiou um jeito natural de dizê-las
e atrair a atenção

Distraído, não a viu
Ela trouxe um inexplicável “oi” de repreensão
O beijo na face quente foi frio
A partida, instantânea e decisiva
As palavras no bolso e na mente
Esconderam-se

O mundo gira rápido demais para ele
Aceitar e compreender as impossibilidades
No bolso as palavras-unhas-canivete arranhavam
Arrancou-as e sem despedida
Com um ensaiado jeito natural
Devolveu-as ao vento

Ela percebeu de longe
Quando a distância se fez segura
Colheu o papel desprezado
As frases encontravam seu destino
Mas palavras sem desejo ou sentimento
Tornam-se apenas palavras:

“Senhora dos meus sonhos”
“Musa das minhas fantasias”
“Dona de todas as divagações”
“Distante dama da realidade”