segunda-feira, agosto 21, 2006

Treta



A treta estava no ar

Podia respirá-la

Escada abaixo

Entrei

Cheiro de confusão

Mais forte que cigarro

Misturava as notas da banda

Atordoava os olhares das meninas

Não foram nem cinco passos

E a cadeira voou

Direto na cabeça

Acima da orelha

Nem vi quem foi

Doeu pra caralho

Tava no chão

E o povo brigando por cima de mim

Me arrastei prum canto

O sangue escorregando pela orelha

Fiquei ali, espremido, sentado, com as pernas encolhidas

De repente

Do nada

A mão na minha cabeça

Susto

Tirei rápido

Olhei e era a Ritinha:


“Cara, eu vi tudo, você passou bem no meio. Tá doendo?”

E pousou o carinho no meu corte

Nem vi mais briga

segunda-feira, agosto 14, 2006

Olhando Poty


Orvalho limo álcool
As porras das pedras do Largo estavam escorregadias
Equilíbrio

A madrugada é mais fria para o solitário

Sentar em um ponto de ônibus qualquer e esperar
O dia vai amanhecer em duas horas
Trazer um ônibus para me levar
O orvalho virou garoa fina
Molhando a luz do holofote
Que acende o mural do Poty
Os homens de mãos e pés grandes
A raia colorida
Um tatu ao lado do tubo do ligeirinho
Casinhas de madeira
Pinheiros pinhões
É bonito?
É Curitiba?

MAS CADÊ A MINHA CURITIBA, PORRA!?!?!?

sábado, agosto 05, 2006

Fazer o quê?

Tive que matá!

Lembro do primeiro dia que vi ela
Tava cumas mina da vila
Passeando
Me cumprimentaram e saíram de risinho
Fui atrás
Queria ela naquela mesma hora
Me cheguei junto, mas ela tava de dôce
Nem cerveja não quis bebê
Ia embora, ofereci carona, não aceitô
Ainda bem, tava a pé
Fiquei com a Ritinha, mas queria era ela
Um domingo, fui atrás, na outra vila
Me arrisquei com a bandidagem de lá
Encontrei ela na pracinha
Tava meio zoada
Tava alta
Tinha fumado um bagulho
Ofereci mais
Ela aceitô
Mas eu falei que ali não
Ali era sujeira pra mim
Malandro de outra praça
Não pode oferecê bagulho na praça alheia
Morre
Levei comigo
Ela fumô umas três pedra
Daí transamo
Ela era virgem
Mesmo zoada ela era um doce
E muito gostosa
A mina mais linda que já tive
Daí ela vinha sempre pra me vê e pra fumá
Ficamo uns seis meis junto
Daí os mano da boca começou a me cobrá
Que ela tinha que pagá as pedra que fumava
Eu disse pra descontá do meu
Mas também tava devendo
Presente, motel, agradinho, sabe como é!?
Grana voa
Levei uma enquadrada dos mano
Era o último aviso
Disse que ia cobrá
Prometi pra eles
Cobrei dela
Ela disse
“Tu que me deu, tu que pague”
Tava meio braba
Meio magoada
Olhou de cantinho
Com um risinho, uma carinha, perguntou:
“Tu não é meu homem?”
Aquilo me desconsertô
Quase chorei
Emoção ser o homem dela
Nunca tinha sido de ninguém
Fiquei meio bobo
Ela me queria
Será que aquilo era amor?
Aquela aflição?
Pensei em largar tudo e ficar com ela
Foi aí que ela disse com cara de ódio:
“Olha aqui ó, cumé queu tô ti pagando”
E abriu bem as perna mostrando a xota na minha direção
Fazer o que?

Tinha que matá, doutô!

terça-feira, agosto 01, 2006

Nem que




Quantos dias taí o corpo?
Eu não sabia responder pro meganha
Só tinha visto hoje
quando passei de magrela
Avisei na padaria
e chamaram os home do orelhão
Foram me buscar na escola
Todo mundo olhando
Até eu achei que ia em cana
sem saber porque
No carro me falaram que era pra reconhecer o corpo
Eu já tinha visto mas não conhecia
Tava sempre com o Zé da Zica
Mas não ia falar nada
pra não me complicar
O Zé mata
todo mundo sabe
anda berrado
mas nem que não andasse
que não matasse
vizinho meu
Não digo nada