quinta-feira, agosto 09, 2007

Palavras não salvam ninguém

João fala rápido e alterado


Pedro escuta, atento


João gesticula amedrontado

As palavras escapam cegas, desorientadas

morcegos saindo da caverna

João as quer limpas doces delicadas convincentes

Elas, rãs no cio, pulam na lama

lânguidas lodosas escorregadias

porém sedutoras

João monta em pelo e as palavras corcoveiam

tenta guiá-las por caminhos planos belos seguros

elas pulam moitas de espinhos

amantes da velocidade raspam árvores de galhos baixos

empinam

João as quer familiares companheiras esposas compreensivas

elas amantes impetuosas intolerantes sado-masoquistas


Garganta espinhosa João crê, por fim, ter gerado a rosa

Amansa-as todo prosa

Palavras ensolaradas e luminosas

espirituais, quase religiosas

Envolventes ventres maternos

protetoras seguras


Pedro continua escutando, atento


João hipnotiza-as malabariza-as coreografa-as

As palavras lambem e abanam o rabo

Acaricia-as atrás da orelha coça as costas delas

pega-as pelas mãos e as leva

pai confiante de filhas obedientes

Elas dançam graciosas para o convidado

Oferecem-se

mundo possível de paz e amor


Enfim repousam com a mão amiga estendida


É a vez de Pedro:


- Falô bonito, mas palavra não é escudo, não desvia a bala do meu trabuco.

POW POW POW



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Now playing: J.J. Cale - Nobody Knows
via FoxyTunes

Um comentário:

Anônimo disse...

também com um argumento desses...
abc.
ferreira