João fala rápido e alterado
Pedro escuta, atento
João gesticula amedrontado
As palavras escapam cegas, desorientadas
morcegos saindo da caverna
João as quer limpas doces delicadas convincentes
Elas, rãs no cio, pulam na lama
lânguidas lodosas escorregadias
porém sedutoras
João monta em pelo e as palavras corcoveiam
tenta guiá-las por caminhos planos belos seguros
elas pulam moitas de espinhos
amantes da velocidade raspam árvores de galhos baixos
empinam
João as quer familiares companheiras esposas compreensivas
elas amantes impetuosas intolerantes sado-masoquistas
Garganta espinhosa João crê, por fim, ter gerado a rosa
Amansa-as todo prosa
Palavras ensolaradas e luminosas
espirituais, quase religiosas
Envolventes ventres maternos
protetoras seguras
Pedro continua escutando, atento
João hipnotiza-as malabariza-as coreografa-as
As palavras lambem e abanam o rabo
Acaricia-as atrás da orelha coça as costas delas
pega-as pelas mãos e as leva
pai confiante de filhas obedientes
Elas dançam graciosas para o convidado
Oferecem-se
mundo possível de paz e amor
Enfim repousam com a mão amiga estendida
É a vez de Pedro:
- Falô bonito, mas palavra não é escudo, não desvia a bala do meu trabuco.
POW POW POW
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Now playing: J.J. Cale - Nobody Knows
via FoxyTunes
Um comentário:
também com um argumento desses...
abc.
ferreira
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